Meditação: Uma percepção psicológica

Além de instrutor de Mindfulness, minha principal atuação é como como psicólogo clínico. Há 11 anos, debruço meus estudos e curiosidade para entender a psique em seus variados contextos, adversidades e como superar os desafios.

Facilitando cursos introdutórios ao Mindfulness, me dei conta de que as ferramentas aprendidas nesta prática têm pontos em comum com a psicoterapia e que auxiliam meus clientes no processo em seus desafios pessoais.

Christopher K. Gemer comenta que existem modelos a serem adotados no setting terapêutico. O primeiro modelo envolve a regulação da atenção, a fim de que ela seja mantida na experiência imediata. A segunda instância envolve adotar uma orientação caracterizada para abertura, curiosidade e aceitação.

Como diz John Kabat-Zinn (quem primeiro organizou um programa de Mindfulness na Escola de Medicina da Universidade de Massachusetts, nos EUA): “Mindfulness é o estado de alerta que emerge por meio da atenção, intencional, no momento presente e no desenrolar da experiência momento a momento”.

Mindfulness é uma experiência que não deve ser aprendida apenas intelectualmente ela precisa ser vivida e sentida.

E para senti-la é muito simples, leve a atenção para seu corpo e (pergunte-se) como está meu corpo nesse momento?
O que estou sentindo?
Como estou respirando?

A capacidade de regular a atenção, estando alerta no contexto clínico, é fundamental assim como desenvolver o não-julgamento, a aceitação, bondade e compaixão.

Na prática clínica, a compaixão é um convite para adentrar nas emoções ou experiências desafiadoras. Se o terapeuta, assim como o cliente, se afastam de uma experiência desagradável as chances de lidar com o que está acontecendo diminui.

A aceitação é a capacidade de lidar com a experiência do jeito que ela é, no momento presente, sendo prazerosa ou dolorosa. A autoaceitação é o convite para a mudança de comportamento. Me arrisco a dizer que Mindfulness é o cultivo da aceitação radical, dos fenômenos que, simplesmente, são como são, neste momento. E se algo lhe desagrada, é exatamente nesse momento que se pode tomar consciência do que está plantando para um vir-a-ser.

A experiência em Mindfulness implica em estarmos abertos para a experiência, presente com aceitação. Assim, podemos perceber o que está surgindo, exatamente nesse momento, e o que está indo embora… O movimento do ir e vir acontece o tempo todo, respeitando os ritmos da natureza, sístole/diástole, nascer/morrer, abrir/fechar, inspirar/expirar…

A prática de Mindfulness em si mesma é bem simples e natural. Acredito que o maior desafio é a continuidade da prática ou Sati, que significa lembrar de praticar. A prática, quando incorporada no dia a dia, tende a aliviar grande parte do sofrimento, dando espaço para a sabedoria e compaixão.

O Dalai Lama entende que a compaixão é uma capacidade de se abrir ao sofrimento, para liberá-lo, assim surge a sabedoria interna.

A prática de Mindfulness nos liberta daqueles pensamentos repetitivos, da ruminação mental – que é, em grande parte, ativação da tristeza. Essa, se cultivada por longo período, pode desencadear um estado depressivo. Desta forma, a prática nos ensina a lei da impermanência, ou seja, tudo está mudando o tempo todo. Podemos entender que nós criamos sofrimento lutando contra a realidade do momento presente.

A concentração ajuda a cultivar uma mente calma e tranquila. A atenção se foca em determinado objeto ou fenômeno, repetidas vezes, assim a mente desvia-se dos pensamentos que não correspondem ao momento presente como, por exemplo, a preocupação ou a ansiedade.

Hoje em dia, nesse mundo frenético, as pessoas estão sendo multitarefas, fazendo tantas coisas de uma só vez, sendo inquietas e agitadas. A capacidade de atenção delas é extremamente pequena.

Muitas pessoas me dizem que é “difícil” manter a atenção no presente. Eu pergunto: quantos anos de sua vida, se percebe ansioso e desatento?

Claro que requer um tempo, um treinamento para mudarmos os hábitos e os condicionamentos que levam a mente para outros lugares. E a melhor forma para mudarmos os condicionamentos é a prática diária. Faça o teste: sempre que perceber que a mente divaga diga a si mesmo “divaguei” e leve a atenção para seu corpo ou para a respiração. Essas são grandes âncoras para o momento presente. Com o passar do tempo, você pode encontrar outras âncoras para o momento presente como: visão, paladar, olfato, tato, etc.

Para quem é iniciante em meditação, saiba que a mente pode divagar, porém o corpo e a respiração estão sempre ancorados no presente. Com o passar do tempo, de forma gradativa, o esforço para se manter no presente vai diminuindo, até tornar-se natural. E essa é nossa verdadeira natureza.

Tarchin Hearn – poeta, escritor, viajante e professor inglês radicado na Nova Zelândia – nos lembra que a atenção e concentração surgem naturalmente e sem esforço, sempre que existem interesse e curiosidade.

A consciência só pode existir no momento presente. Qualquer outra possibilidade é ilusão. Viver um mundo ilusório e desconexo pode levar a disfunções ou transtornos emocionais como, por exemplo, transtornos ansiosos ou depressivos.

Como saber se um sintoma virou transtorno? A principal percepção é notar se o comportamento está lhe prejudicando. Não conseguir se concentrar em uma atividade por alguns minutos, ficar irritado e explosivo com facilidade, choro fácil… esses são exemplos e indicativos de que o copo está transbordando e, quanto antes se procura por alguma ajuda ou tratamento, maiores são as chances de prevenção contra prejuízos ainda mais graves.

Pratique sempre a consciência plena em qualquer lugar onde estiver… e para fortalecer sua atenção tire alguns minutos por dia para sua prática pessoal. O resultado, geralmente, acontece muito rápido. Você logo perceberá que a compaixão lhe deixará com o coração e a mente leves, aceitando os acontecimentos para uma vida em paz, com presença e propósito.

Referências: Gemer C. K. e Cols (2016), Mindfulness e Psicoterapia, 2ed.

 

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Georges Mantchouk Neto, instrutor do Coletivo Flow, é psicólogo especialista Junguiano e Psicossomático.Hipnoterapeuta, Terapeuta Quântico, Instrutor de Mindfulness e de Frequências de Brilho.

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